Pomada desenvolvida por pesquisadores da Ufal cura pacientes com HPV
O produto, cuja patente foi solicitada no Brasil e nos EUA, curou as verrugas genitais dos pacientes com papiloma vírus humano sem efeitos colaterais nem recidiva
Manuella Soares - jornalista
Sem dor e sem
procedimentos invasivos! É o fim de um dos sintomas mais terríveis do HPV: as
verrugas genitais! A constatação não é mais utopia, é comprovada
cientificamente com o resultado de uma pesquisa realizada por quatro
professores da Universidade Federal de Alagoas. Após 12 anos de estudos, os
pesquisadores tiveram indicação favorável à patente de uma pomada que curou
100% dos pacientes submetidos ao tratamento do papiloma vírus humano, no
Hospital Universitário.
Tendo como princípio
ativo os taninos, a pomada foi desenvolvida utilizando o extrato de um vegetal
comum na flora do litoral brasileiro, o barbatimão. Mas segundo o professor
Luiz Carlos Caetano, do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal, foi na
Zona da Mata de Alagoas onde os pesquisadores encontraram a solução para o
tratamento do HPV. “A pomada feita com o extrato das cascas do caule da espécie Abarema
cochliocarpos, o barbatimão mais comum na nossa região, deu o resultado
mais eficaz no tratamento dos pacientes. A suas cascas tem coloração mais
avermelhada do que as cascas da planta encontrada na região do Sudeste do país,
por exemplo, e foi por ela que seguimos nossos estudos”, explicou Caetano.
“Vale lembrar que as cascas do barbatimão são uma das mais comercializadas em
feiras do mercado fitoterápico de Maceió, sendo utilizada pela população mais
simples como agente cicatrizante e anti-inflamatório”, acrescentou.
Tratamento com pomada
Durante cinco anos, 46 pacientes diagnosticados com alguns dos mais de 200 tipos do papiloma vírus foram acompanhados no Hospital Universitário. Todos eles passaram por um tratamento de dois meses, utilizando a pomada duas vezes por dia. O produto foi cedido aos voluntários pela equipe da pesquisa, financiada pelo Núcleo de Inovação Tecnológica da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (NIT/Propep) da Ufal.
Os efeitos positivos
do tratamento foram percebidos logo nas primeiras aplicações com a diminuição
das lesões. Já os resultados que demoraram mais a aparecer foram observados nos
pacientes que tinham algum tipo de limitação na imunidade. “Indicamos a pomada
em crianças, jovens, idosos, gestantes e até para as pessoas com
imunodeficiência, como é o caso dos portadores de HIV. Todos constataram a cura
do papiloma vírus e, o melhor, sem recorrência da doença”, comentou o professor
Manoel Álvaro.
Há cerca de 15 anos
desenvolvendo pesquisas químicas e biotecnológicas relacionadas ao barbatimão,
o professor Luiz Carlos Caetano trabalhou em conjunto com o agrônomo Pedro
Accioly, professor do Centro de Ciências Agrárias, e o biólogo Zenaldo
Porfírio, docente do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde. Ele revela
que não imaginava alcançar o desenvolvimento de um produto de aplicação direta
na área da saúde.
Professores Manoel Álvaro e Luiz Carlos Caetano |
Mas a parceria com
um médico, o professor Manoel Álvaro, foi a medida certa para a descoberta da
pomada que utiliza os taninos do barbatimão, para curar uma doença que causa
efeitos físicos e psicológicos. A substância de origem vegetal age na
desidratação das células infectadas, que secam, descamam e desaparecem. “O
grande mérito disso é mesmo o ganho social de um estudo que era meramente
científico, e, aí, muda o caminho das nossas vidas”, enfatizou Caetano.
Patente
A Pró-reitoria de
Pesquisa e Pós-graduação está apoiando todo o processo do registro do estudo no
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que já se posicionou
favorável à patenteabilidade da pomada desenvolvida na Ufal. A Propep também
fez o depósito do trabalho nos Estados Unidos, através do apoio de um projeto
financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o que indica que
pode ser a primeira patente internacional da universidade.
“Nós investimos em
pesquisa e queremos o retorno para reinvestir em outros estudos científicos que
beneficiam a população. Agora, estamos buscando parcerias com grandes
laboratórios para comercializar o produto”, disse a coordenadora do Núcleo de
Inovação Tecnológica da Ufal, Sílvia Uchôa, ressaltando a satisfação do NIT em
acreditar no potencial dos professores da instituição.
“Quando o produto
chegar ao mercado será um divisor de águas, porque vamos oferecer um tratamento
sem efeito colateral e que já nos abre os caminhos para as pesquisas em
pacientes de risco, no combate ao câncer de colo do útero. Esse é o próximo
passo”, adiantou o professor Álvaro.
O que é o HPV
O HPV, o papiloma
vírus humano, é uma doença sexualmente transmissível que atinge milhões de
pessoas em todo o mundo e é um dos responsáveis pelo câncer de colo do útero
nas mulheres. De acordo com o professor Manoel Álvaro, da Faculdade de Medicina
da Ufal, estudos comprovam que uma a cada quatro mulheres serão infectadas pelo
vírus em algum momento da vida. A infecção por HPV é a principal enfermidade
viral transmitida pelo sexo. Atualmente, os tratamentos para as verrugas genitais
que se manifestam de forma mais ou menos graves em determinados pacientes são
invasivos e dolorosos, além de contraindicados em situações específicas.
“Os tratamentos mais
comuns são feitos por meio de intervenção clínica com ácido tricloroacético, podofilina,
podofilotoxina, laser, crioterapia e cirurgia com cauterização, usando bisturi
elétrico. O que desenvolvemos aqui na Ufal foi uma pomada, de uso tópico, sem
efeito colateral e sem contraindicação. Estamos muito felizes e orgulhosos
dessa pesquisa que vai beneficiar a sociedade. O impacto disso é muito grande e
valioso”, ressaltou o médico Manoel Álvaro.
Segundo a
Organização Mundial da Saúde, as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) estão
entre as dez principais causas de procura por serviços de saúde no mundo, e o
HPV é a mais comum de todas, atingindo entre 75% e 80% da população, em algum
momento da vida. Estima-se que há em torno de 600 milhões de pessoas
infectadas.
O papiloma vírus
humano é classificado em baixo ou alto risco de câncer. Somente os de alto
risco estão relacionados a tumores malignos e com maior probabilidade de
provocar lesões persistentes. A transmissão do HPV é por contato direto com a
pele infectada. Os HPV genitais são transmitidos por meio das relações sexuais,
podendo causar lesões na vagina, colo do útero, pênis e ânus. As infecções
clínicas mais comuns na região genital são as verrugas genitais ou condilomas
acuminados, popularmente conhecidas como "crista de galo".
A doença,
predominantemente feminina, também acomete os homens. As pessoas sexualmente
ativas devem usar preservativo para evitar a infecção por HPV. Existem no
mercado dois tipos de vacina que previnem dois tipos do papiloma vírus (a
bivalente) e a que previne os vírus dos tipos 6, 11, 16 e 18 (a quadrivalente).
O tratamento de prevenção com vacina ainda é caro, encontrado em clínicas
particulares de saúde, mas o Ministério da Saúde já custeia a vacinação de
meninas de 9 a 13 anos de idade, que nunca tiveram contato sexual.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovou
indicação da vacina do HPV para prevenção também do câncer anal.
Vídeo reportagem pela EBC:
Planta é usada para pomada de tratamento do HPV
Via UFAL
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